Noruega pede desculpas a “garotas alemãs” da Segunda Guerra
Governo lamenta “tratamento vergonhoso” dado a norueguesas que
tiveram relações com soldados alemães durante ocupação nazista.
Muitas sofreram humilhação pública, e algumas foram expulsas do país.
Mulheres norueguesas que tiveram filhos com soldados alemães durante a Segunda Guerra,
em foto de abril de 1945
A Noruega pediu oficialmente desculpas pelo tratamento dado a mulheres
norueguesas que sofreram represálias por suas relações íntimas com soldados
alemães durante a ocupação do país durante a Segunda Guerra Mundial.
Entre 30 mil e 50 mil norueguesas, comumente apelidadas de “garotas alemãs”,
estiveram envolvidas com soldados alemães durante o conflito, segundo estimativas
do Centro de Estudos do Holocausto e das Minorias da Noruega.
Além da humilhação pública, muitas dessas mulheres foram alvo de represálias
promovidas por autoridades após o fim da ocupação nazista, em 1945, incluindo
detenções e prisões ilegais, demissões e até mesmo a expulsão do país e a supressão
da nacionalidade norueguesa.
“Jovens e mulheres norueguesas que tiveram relações com soldados alemães ou
eram suspeitas disso foram vítimas de um tratamento vergonhoso”, disse a primeira-
ministra da Noruega, Erna Solberg, nesta quarta-feira (17/10).
“Hoje, em nome do governo, quero pedir desculpas”, disse a premiê durante um
evento em celebração do 70º aniversário da Declaração Universal dos Direitos
Humanos da ONU. “Para muitas, isso era apenas um amor adolescente, para outras,
o amor de suas vidas com um soldado inimigo ou um flerte inocente que deixou
uma marca pelo resto de suas vidas.”
Durante a Segunda Guerra, mais de 300 mil soldados alemães ocuparam a
Noruega, um país declarado neutro na guerra e que os nazistas invadiram em
9 de abril de 1940. Heinrich Himmler, o comandante da força paramilitar SS,
considerava as norueguesas “deusas” e encorajou seus comandados e manter
relações com mulheres locais.
Mais de 70 anos após o fim da Segunda Guerra, poucas das mulheres afetadas
continuam vivas, e o pedido oficial de desculpas provavelmente não abrirá caminho
para reparações financeiras para suas famílias.
“As pessoas diretamente afetadas não estão mais conosco, mas isso também afeta
suas famílias e seus filhos”, disse Reidar Gabler, filho de uma norueguesa que foi
expulsa do país em 1945, juntamente com o marido alemão. “Mesmo que seja tarde,
o pedido de desculpas é importante para a história”, afirmou em entrevista ao diário
norueguês Aftenposten.
O historiador Kare Olsen disse não ter conhecimento de nenhum pedido
semelhante de desculpas em outros países europeus, onde mulheres sofreram após
o envolvimento com soldados durante a ocupação alemã. Milhares de mulheres
francesas foram publicamente censuradas depois da libertação – algumas foram
detidas ou executadas em represálias extrajudiciais.
“Na França, por exemplo, essas mulheres foram maltratadas após a libertação,
mas foi mais pelas pessoas na rua do que pelas autoridades”, explicou Olsen.
Na Dinamarca, historiadores estimam que cerca de 50 mil mulheres tenham
se envolvido com membros das forças de ocupação alemãs, mas não houve
acusações ou expulsões do país. “Há menos motivos para um pedido oficial de
desculpas do que na Noruega”, afirmou Anette Waring, professora da
Universidade de Roskilde.
Nenhum dos cerca de 28 homens noruegueses casados com mulheres
alemãs durante a Segunda Guerra foram expulsos ou tiveram suas nacionalidades
cassadas, segundo o historiador Guri Hjeltnes, diretor do Centro de Estudos
sobre o Holocausto e Minorias da Noruega.
“Não podemos afirmar que as mulheres que tiveram relações pessoais com
soldados alemães estavam ajudando a campanha de guerra alemã”, disse Hjeltnes.
“Seu único crime foi quebrar as regras não escritas.”
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